A Governança Espiritual: o sagrado afro-brasileiro na edificação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô. Defesa de tese de Maria Alice Pereira da Silva.

 

A Governança Espiritual: o sagrado afro-brasileiro na edificação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô.

Defesa de Tese de Maria Alice Pereira da Silva

 

Data: 24/11/2023 – das 9 às 12h – Auditório do Parque Pedra de Xangô.

Transmissão canal do YouTube da Fundação Gregório de Mattos

 

Banca Examinadora

 

Dr.Fábio Macêdo Velame - Prof. Orientador – PPGAU-UFBA

Dr. Henrique Antunes Cunha Junior – Prof. Co-orientador -  PPGAU- UFBA

Drª Márcia Genésia Sant´Anna - Membro Interno PPGAU-UFBA

Dr. Leonardo Name - Membro Interno PPGAU-UFBA

Dr Francisco Veras Quintanilhas Veras - PPGD-UFSC

Drª Erika Fernandes Pinto - ICMBio/MMA

 

RESUMO

Nas sociedades africanas e na filosofia africana a formação de tudo que existe é regido pela existência da energia vital. O mundo, incluso a humanidade, é representada pela existência de energias visíveis e invisíveis, que devem estar em harmonia e equilíbrio. Os seres possuem mente, espírito e alma, de forma conjunta e harmônica. Os seres invisíveis, os espíritos fazem parte de um mundo em interação com o mundo visível. Dentro desse universo africano de conhecimento, religião e vida é que se apresenta o conceito de Governança Espiritual. Em grande oposição a hegemonia ocidental, as visões do mundo eurocêntrico, os conceitos de energia vital e de Governança Espiritual são postulados da religiões e das filosofias africanas e afrodescendentes que afastam a dicotomia entre os seres humanos e a natureza. A Governança Espiritual dos sítios naturais sagrados, também, faz parte das culturas indígenas. Através dos seus rituais e do seu modo de viver, pensar e sentir a vida, os povos originários protegem e defendem a biodiversidade no mundo.  As religiões de matriz africanas e afro-brasileiras sempre partiram da crença de divindades pluriversais e pluripresentes materializadas e representadas pelos elementos da natureza. Assim, a principal fonte teórica da tese é a Governança Espiritual Afro-brasileira, ou seja, o conceito contido no Candomblé e o que se conhece sobre. O Candomblé como teoria de concepção de vida. Além do fator religioso, a concepção de como opera o mundo. Paradigma da ciência africana, a Governança Espiritual Afro-brasileira é a energia do Axé (energia vital), a energia das divindades no processo de decisão, no caso em estudo, de (Ori) entações de ações urbanísticas e arquitetônicas. Perante essas significações, o escopo da tese é compreender a importância da Governança Espiritual Afro-brasileira enquanto elemento fundante para a edificação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô. Quantos aos objetivos específicos consistem  em: I- investigar como Xangô inspirou e convenceu o poder público, técnicos e acadêmicos envolvidos na concepção do projeto arquitetônico para a implantação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô a executarem as suas ordens; II - identificar as estratégias utilizadas pelos adeptos das religiões de matrizes afro-brasileiras para viabilizar a construção de um parque prospectado a partir de sua cosmopercepção de mundo, com ênfase nas histórias, culturas e valores do povo negro na diáspora; III -  descrever os diferenciais do projeto, explicando os significados e razões dos vários elementos que compõem a arquitetura das edificações. Metodologicamente, o percurso foi tecido, de modo conjugado, e trilhou os seguintes caminhos: metodologia da pesquisa afrodescendente, sistema observante (inspirada no pensamento sistêmico); técnica da cartografia das controvérsias (com base nas formulações teórico-metodológicas da Teoria Ator-Rede — ANT); pesquisa bibliográfica e documental; diário de campo virtual; entrevistas; sistematização, análises dos discursos e conteúdos

.Os resultados? É o que foi edificado e o que está por vir. Elemento fundante, morada dos orixás, voduns, inquices, caboclos e encantados, a Pedra de Xangô, natureza encantada pelo fluxo do axé, através das festas e rituais, na relação território e terreiro, teceu e concebeu uma arquitetura contemporânea própria, a arquitetura da Justiça de Xangô, proporcionando que os terreiros, caminhos e encruzilhadas tornem-se lugares sagrados em rede. (In)conclusões: O Parque Pedra de Xangô é uma arquitetura fluída, circular, em transe, itinerante, em movimento, em constante transformação. Em síntese, uma arquitetura de reencantamento, sagrada, contra-hegemônica que questiona a hermenêutica ocidental, as narrativas eurocêntricas e elege como estética da ambiência as normas do poder do Axé.

Palavras chaves: Energia vital. Governança Espiritual. Cosmopercepção, Africanidade.  Arquiteturas de terreiros. Estética da ambiência.