Periferias ou o principal da cidade? Lançamento indisciplinado do Atlas das periferias no Brasil - IPEA.

 

Periferias ou o principal da cidade? 

Lançamento indisciplinado do Atlas das periferias no Brasil - IPEA.

09 de julho de 2022, às 14 horas na Galeria 3 do MAM.

 

Favelas, comunidades, ocupações, bairros, territórios pretos, indígenas e populares: periferias? São muitas as designações e frequentemente as periferias são reduzidas unicamente a lugares de falta, escassez, problemas e irregularidades. 

Mas, se ao invés disso, assumirmos que as periferias - que estão nas bordas e no centro - não são apenas territórios pauperizados e precarizados, mas de abundância e potência de vida? Que são espaços plurais e diversos de criação cultural, de inventividade social e de insistência da vida! 

Face às interdições, apagamentos e normalizações, constantemente perpetrados pelas elites brancas cis heteronormativas - sob as ideologias e discursos do progresso, da modernização, da civilização e/ou do desenvolvimento - emergem modos divergentes de habitar e de performar a cidade, que recusam a violência e a subjugação como condições absolutas e apontam para persistência da vida preta, indígena e dissidente exuberante e criativa.

As periferias são o principal da cidade, se referindo a agenciamentos coletivos, socialidades, condições, modos e formas de vida que povoam, compõem e sustentam a cidade. Elas são os territórios analisados no "Atlas das periferias no Brasil: aspectos raciais de infraestrutura nos aglomerados subnormais", datado de 2021, mas publicizado oficialmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada - IPEA - em fevereiro de 2022. O estudo tem como objetivo a elaboração de uma metodologia de análise dos microdados da pesquisa em "aglomerados subnormais" - categoria do censo demográfico de 2010 realizado pelo IBGE, que congrega informações descritoras das periferias brasileiras.

O trabalho apresenta um recorte racial dos dados sobre a infraestrutura do entorno dos domicílios nos aglomerados subnormais e considera as cinco grandes Regiões Administrativas brasileiras, Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste, conforme as características de infraestrutura externas às moradias. 

Os resultados apresentados reforçam a concentração da população negra nas periferias urbanas, mas também evidenciam a presença dos povos indígenas nesses mesmos espaços, especialmente na região amazônica brasileira.

De acordo com o censo demográfico de 2010, havia 6.329 "aglomerados subnormais" no Brasil, com uma população residente que somava um total de 11.425.644. Naquele mesmo ano, o censo demográfico identificou o total populacional de 190.755.799 de pessoas no país. Ao  todo, 68,3% eram negros; 30,6%, brancos; e 0,2%, indígenas. Quando observado o percentual de residentes em áreas regulares, os negros eram 49,6%, enquanto a soma de brancos (48,8%) e de indígenas (0,4%) se aproximava do total de pretos e de pardos.

O lançamento do Atlas das Periferias em Salvador acontecerá por meio de uma roda de conversa com as presenças de participantes da rede cidade comum, que elaboraram um texto coletivo em contribuição ao Atlas. Essa rede é formada por professoras e estudantes da Faculdade de Arquitetura da UFBA e membros de movimentos e coletivos urbanos, tais como: Acervo da Laje, Associação Amigos de Gegê e Moradores da Gamboa de Baixo, Associação de Moradores e Amigos do Centro Histórico (Amach), Projeto cultural Arte Consciente em Saramandaia, Associação Beneficente de Moradores de Saramandaia, Associação Nova República em Santa Cruz, Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MBL) e Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB).